Como irá afetar o reforço da regulamentação de emissões?.

DESDE O PASSADO DIA 1 DE JANEIRO DE 2015, OS NAVIOS COMERCIAIS QUE NAVEGAM NAS ZONAS DE CONTROLO DE EMISSÕES (ECAS) ESTABELECIDAS NO ANEXO VI DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO POR NAVIOS (MARPOL), OU SEJA, AS ZONAS DO MAR BÁLTICO, ÁREA DO MAR DO NORTE, AMÉRICA DO NORTE E O MAR DO CARIBE NOS ESTADOS UNIDOS, TÊM RESTRINGIDO O USO DE ÓLEO COMBUSTÍVEL A UM TEOR MÁXIMO FIXADO NOS 0,1% EM ENXOFRE COM O OBJETIVO DE CUMPRIR COM OS LIMITES DE EMISSÕES DE ÓXIDO DE ENXOFRE (SOx) PARA A ATMOSFERA E PARTÍCULAS PESADAS, ESTABELECENDO UM LIMITE DE TEOR DE ENXOFRE PARA OS NAVIOS QUE NAVEGAM FORA DESTAS ZONAS DE CONTROLO DE EMISSÕES DE 3,5%.
 
Por: Fernando Díaz Pernas, engenheiro técnico industrial, especialista em processos de fabricação pela UPM, e diretor comercial da Olipes High Quality Lubricants.

Estas restrições já estão a fazer com que os armadores realizem combinações contínuas de combustíveis de diferentes qualidades para alimentar os motores dos seus navios (o que não está isento de riscos, se não se realizar ao mesmo tempo uma correta seleção do lubrificante de acordo com o tipo de combustível usado), a situação irá complicar-se ainda mais a partir do dia 1 de janeiro de 2020*, quando os limites de enxofre forem reduzidos de 3,5 para 0,5% nestas zonas de exclusão. 

Quando chegar o momento, o armador terá de decidir se irá mudar para combustíveis com baixo teor de enxofre ou se continua a utilizar o combustível de óleo combustível pesado (HFO) com alto teor de enxofre e se instala no navio um purificador de gases de escape para cumprir com os limites de SOx (o que implica um maior investimento em equipamentos e um maior custo de manutenção) independentemente das águas pelas quais navegue o seu navio ou, por outro lado, opte por utilizar combustíveis de baixo teor de enxofre, gás natural liquefeito (GNL) ou algum dos novos óleos combustíveis “híbridos” nas zonas de controlo de emissões (ECA) e óleo combustível residual com alto teor de enxofre em águas internacionais. 

Os principais fatores na tomada de decisões serão o elevado custo e a escassa disponibilidade de combustíveis marinhos de baixo teor em enxofre, a falta de investimento em infraestruturas de GNL e as importantes melhorias conseguidas na tecnologia dos purificadores de gases de escape para a redução de SOx, Óxidos Nitrosos (NOx) e Partículas (PM). 

Efeitos sobre a formulação dos lubrificantes

Se, como parece ser provável, os armadores decidirem continuar com o uso de HFO com purificadores de gases de escape (Scrubbers), irão necessitar, por sua vez, de lubrificantes com alta reserva alcalina (TBN) para garantir que os ácidos produzidos durante a combustão sejam neutralizados pelo óleo lubrificante de forma eficaz e, assim, proteger o motor da corrosão; naturalmente que os lubrificantes com elevado TBN geram muito mais cinzas, o que provoca arranhões e a deterioração dos revestimentos. Assim, o principal desafio para os fabricantes de lubrificantes é o de oferecer ao armador um óleo de motor com uma formulação equilibrada que ofereça um TBN suficiente e estável, para garantir a proteção contra a corrosão, tal como a manutenção da limpeza do conjunto de pistão para evitar a deterioração e desgastes prematuros. 

Se os grandes navios de carga e contentores optarem pelo uso de combustíveis, poderia surgir a necessidade de empregar diferentes óleos de motor para fazer frente às condições dentro e fora das ECA. Em alto mar seriam ainda necessários óleos com alto TBN (TBN 100 a TBN 140) para utilizar com os HFO e óleos com um menor TBN (TBN 40 ou inferior) quando os barcos mudam de combustível nas ECA, com especial atenção para a limpeza e proteção necessárias quando se emprega GNL, já que a utilização contínua de um óleo com alto teor TBN juntamente com estes combustíveis poderia dar lugar a uma formação de resíduos no conjunto de pistão que implicaria desgastes muito elevados do cilindro. Em poucas palavras, teríamos que fazer uma mudança do lubrificante a bordo de cada vez que se alterasse o combustível empregue. 

A corrosão fria, outro fator importante a ter em conta 

Face a estas limitações ambientais cada vez mais restritivas e a necessidade urgente de reduzir os custos com a exploração, apresentam-se aos armadores opções de como investir em novos motores com cursos do pistão mais largos ou modificar os motores existentes para permitir que funcionem com baixa carga (também conhecida como a navegação lenta). 

Embora estas estratégias reduzam o consumo de combustível, também são propensas a sofrer da denominada “corrosão fria”, através da condensação da água nas zonas mais frias das paredes dos cilindros; água que reage com o dióxido de enxofre dos gases de combustão, formando ácido sulfúrico, aumentando assim o desgaste por corrosão das camisas fundidas. Esta corrosão fria produz-se inclusive quando se realizam exclusivamente combustíveis baixos em enxofre e ainda que para prevenir os seus efeitos, a única solução atual é a de utilizar lubrificantes com um elevado TBN, os fabricantes de aditivos como a Infeneum ou de lubrificantes como a Olipes, estão a trabalhar atualmente em novas formas de a prevenir, com fórmulas inovadoras com um TBN inferior a 100. Se bem que estes avanços nas fórmulas dos lubrificantes terão que ser combinados com regimes de trabalho dos motores mais perto do ponto de desempenho ideal e a instalação de equipamentos adicionais, tais como supressores do turbo compressor.

Apesar dos avanços que se estão a verificar nas fórmulas, atualmente não existe uma solução universal, com um único lubrificante para todo o tipo de combustíveis e condições de operação, sendo a opção mais inteligente e a que recomendamos na Olipes, combinar com cada tipo de combustível, o lubrificante mais adequado. 

Ainda que seja provável que os fabricantes dos equipamentos de origem (OEM) optem por recomendar lubrificantes de motor adequados para o combustível mais problemático (HFO de alto teor de enxofre), não devemos descartar a opção de que, no futuro, façam esta combinação de lubrificante-combustível nas suas recomendações. 

*A data de implementação prevista para o dia 1 de janeiro de 2020 poderia ser alargada até 2025 de acordo com a decisão tomada na próxima revisão dos regulamentos, em 2018, e o principal fator a ter em conta para colocar em marcha este alargamento será a disponibilidade no mercado de combustíveis, de GNL e de lubrificantes adaptados e a eficácia dos purificadores de gases. 
Fontes consultadas: www.imo.org / www.dupont.com / www.dieselnet.com / www.boe.es / www3.epa.gov / www.infineuminsight.com.
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